terça-feira, 16 de setembro de 2008

Quatro pontos marcantes da teoria de Jonh Locke sobre o Conhecimento

Os quatro pontos marcantes sobre a concepção de Conhecimento, segundo a teoria de Jonh Locke: análise e importância para a Teoria do Conhecimento


1º O Conhecimento não é inato

Para Locke o Conhecimento vem da experiência, e é reconhecida pelas faculdades naturais (mente). Locke descreve que ao nascermos nossa mente é uma tábua rasa ou uma folha de papel em branco e nesta folha vão sendo gravadas as experiências produzidas pelo meio externo (sensações), essas experiências são apreendidas e reconhecidas pelas faculdades naturais. Portanto, a construção do Conhecimento é apreendido pela experiência. Contrapondo Descartes, este afirmava que o Conhecimento é inato, já está em nossas mentes, como certos princípios e verdades, já impressos na nossa alma. Locke refuta esse argumento de Descartes, pois, se o Conhecimento é inato e estão impressos na alma, então a existência dessas verdades e princípios são conhecidos por todos (universalmente), então essas verdades e princípios não são inatos.
Temos aqui um questionamento, em que momento essas verdades implicam em que devem ser percebidas, entendidas ou usadas pela mente? Em nenhum momento, pois, sendo o homem finito, não chegará a conhecer á todas as verdades impressas na alma, portanto, o Conhecimento de verdades e princípios não são inatos, Locke ressalta e afirma, que a capacidade é inata, mas o Conhecimento é adquirido.
A Obra de Locke tornou-se de grande importância para a Teoria do Conhecimento, pois, ela define e sustenta a corrente filosófica do empirismo, tendo como suporte a experiência fundamental para o Conhecimento e o empirismo foi de grande relevância sendo adotado por outras ciências como, por exemplo, a Lógica, a Linguagem, a Política, a Teologia e etc. Vemos então que o empirismo constitui um método científico e seguro, pois, só podemos conhecê-lo pela experiência.


2º As Idéias

Uma segunda característica sobre o Conhecimento para Locke, podemos abordá-la a respeito da Idéias. As Idéias têm sua origem no meio externo, ou seja, são obtidas das sensações percebidas do meio externo, são captadas pela mente vazia, sendo registradas pela experiência e armazenadas pela memória, que são usadas posteriormente quando necessárias. É a mente que enriquece a linguagem material, dando nome para as impressões que vem do meio externo, assim a mente vai ampliando seus conhecimentos, apreendendo gradualmente, exercitando a faculdade natural a razão torna-se mais visível, pois, é ampliado pelo emprego da idéia de linguagem material. Locke nos aborda dois tipos de idéia e as diferencias: as idéias simples e as idéias complexas.
As idéias simples não podem ser formadas pela mente e nem destruídas, pois, não se podem estabelecer distinções como amarelo, branco, duro, liso e outras características, pois, elas são sugeridas ou fornecidas á mente pela sensação ou reflexão. Já as idéias complexas, estas constituem as associações das idéias simples, como por exemplo, a mesa que tem uma qualidade dura e é de cor branca. As idéias simples são particulares e orientam posteriormente para as idéias complexas. Para Descartes nossa identidade se constituem no ser pensante “cógitus”, Locke refuta o argumento cartesiano e afirma, segundo o empirismo, que as ações, o prazer, o sofrimento, são sensações apreendidas pela consciência e são pertencentes à identidade pessoal. A importância do empirismo de Locke, para a Teoria do Conhecimento, é que ele está aberto a novas reflexões e sua compreensão nos lança e nos orienta para a compreensão científica do mundo acerca das realidades presentes


3º As operações interna e externa – a fonte do Conhecimento

Outra característica marcante que podemos abordar a respeito da obra de Locke, a respeito do Conhecimento, vem do postulado das operações interna e externa. Como vemos a sua tese central é de que tudo o que conhecemos vem da experiência, ele não nega que o homem é consciente de que pensa, no entanto, á medida que ele está pensando vai se ocupando de idéias e estas são apreendidas unicamente pela experiência. Se o Conhecimento vem da experiência, ela é desenvolvida por meio das operações externas, do objeto sensível e interna, o que a mente percebe e reflete e aqui, através dessas operações, encontramos a fonte do Conhecimento e onde derivam todas as idéias, assim o próprio Locke afirma seu pensamento neste argumento: “ Afirmo que estas duas, a saber, as coisas materiais externas, como objeto da sensação, e as operações de nossas próprias mentes, como objeto da reflexão, são, a meu ver, os únicos dados originais dos quais as idéias derivam” [1].
É importante ressaltar que o processo da apreensão das idéias pela experiência, somente será possível se a mente estiver ativada, ativa e atenta, pois, não têm como a sensação ou a reflexão absorver, captar qualquer coisa e levar á mente, se esta não estiver atenta (atenção), se não for ativada e não estiver ativa para operacionar esse processo do Conhecimento. Podemos perceber que a contribuição de Locke, quando nos aborda a respeito dessas operações interna e externa, para a Teoria do Conhecimento, nos remete a uma compreensão que mais tarde a Psicologia Comportamental irá trabalhar com as crianças utilizando desses elementos para que elas adentrem ao mundo das coisas visíveis e reais, isso demonstra mais uma vez o grande salto qualitativo do empirismo que se apresenta como uma nova proposta de reflexão acerca das coisas e do mundo e de nossa maneira de interagir junto a essas realidades.


4º A Concepção de Alma

Outra grande característica marcante a respeito do Conhecimento, segundo Locke, é a sua abordagem sobre a Alma. Locke concebe a alma como uma operação da mente. Assim como o movimento estar para o corpo, o movimento da alma é o pensar e este pensar é sempre consciente, é atento e vigilante, ou seja, consciência e pensamento é atenção. Locke assim argumenta seu pensamento: “imagino que a percepção das idéias é para a alma o que o movimento é para o corpo, isto é, não é sua essência, mas uma de suas operações.” [2]
Com esta sua afirmação ousada e inovadora, Locke desconstrói todo o edifício argumentativo pelo qual Descartes sustentou sua tese nas Meditações, postulando que a Alma é essência, é o próprio pensar e bem antes de Descartes, Platão considera também que a Alma é essência. E mais do que isso a Alma, segundo Locke, não é substância e não é evidente por si mesma, pois, isso requeria uma petição de princípio (aquilo que a pessoa quer provar constitui uma prova) e não uma prova racional e mais uma vez Locke organiza seu pensamento da tese de que tudo nos vem pela experiência: “... que esta substância esteja perpetuamente pensando, ou não, não podemos ter mais segurança do que nos informa a experiência. Afirmar que o pensamento real é essencial á alma e inseparável dela é uma petição de princípio e não uma prova racional, sendo necessária apresentá-la, por não se tratar de uma proposição evidente por si mesma.” [3]
Portanto, qualquer argumento, segundo Locke, parti de sua tese central, da experiência. Vemos que a importância de sua concepção a respeito da Alma dentro da Teoria do Conhecimento, constitui uma verdadeira revolução do raciocínio lógico, pois, durante muito tempo Descartes sustentou na sua tese que a Alma é o próprio pensar e nisso constituía toda verdade irrefutável, no entanto, Locke nos apresenta uma reflexão mais inovadora e ousada, digamos uma nova forma de pensar a respeito das coisas que nos foram postuladas e fechadas, a corrente filosófica do Empirismo, tendo como grande referencial John Locke, nos abre um enorme oceano de possibilidades na construção do Conhecimento e nos faz refletir da enorme contribuição de seu pensamento para a atualidade, é lamentável que Locke não seja tão estudado e pesquisado como deveria ser, quando o confrontamos com os Colossais do pensamento Ocidental, como por exemplo, Nietzsche e Kant.



[1] Livro II, Cap. I, Art. 4. Ensaio Acerca do Entendimento
[2] Idem
[3] Idem

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