quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Construção da Genealogia da Moral em Nietzsche

CONSTRUÇÃO DA GENEALOGIA DA MORAL EM NIETZSCHE

A abordagem e a construção da Genealogia da Moral datado do ano de 1887, a obra mais importante de Nietzsche no campo da moral, é fruto de todo um processo histórico reflexivo que o Filósofo vinha elaborando. Seus escritos anteriores á Genealogia, como Assim Falou Zaratustra do ano de 1885, e Além do Bem e do Mal de 1886, constituem pilares integrantes do ousado projeto fundado pelo postulado da “Transvaloração de todos os valores”. Esse postulado deixa transparecer que o problema de toda a tradição filosófica é um problema de valor e nesse sentido a Genealogia da Moral se apresenta como um fecho e complemento dos elementos constituintes da moral.
A Genealogia da Moral é um compêndio de conceitos que Nietzsche, com genialidade, discorre no terreno da moral, poís, ele aborda nas suas três dissertações temas de grande relevância, como a dor, a culpa, o ressentimento e o ideal ascético. É neste constante exercício que o Filósofo nos conduz a uma análise reflexiva a respeito do valor dos valores que adentram o homem.
Nietzsche como Filólogo, constitui uma importante ferramenta em nossa reflexão, para a construção dos conceitos e termos na Genealogia, por isso no sentido estrito da palavra, o termo genealogia nos remete ao estudo da gênese das coisas, ou seja, procura uma busca da investigação das origens remetendo ao passado, perpassando as gerações, assim por exemplo, pode-se fazer a genealogia, usando como elementos indissociáveis os dados investigativos, de uma famíla, de um grupo étnico, de uma determinada cultura, de um povo, de uma religião e etc.
É nesta análise reflexiva que a Filosofia de Nietzsche nos propõe uma genealogia da moral e ele, devido a sua forma original, é o precurssor na utilização deste termo no campo filosófico e com base na definição que ressaltamos anteriormente, encontramos aqui, segundo Nietzsche, uma investigação sobre as origens dos valores morais e essa investigação é possível tecer um olhar crítico sobre esses valores que foram gerados do chão em que brotaram, a moral cristã ocidental, e o próprio Nietzsche, reforça essa investigação quando o Filósofo afirma: “Necessitamos de uma crítica dos valores, o próprio valor desses valores deverá ser colocado em questão, para isso é necessário um conhecimento das condições nas quais nasceram, sob as quais se desenvolveram e se modificaram” [1]. Nietzsche construiu a Genealogia da Moral em três grandes dissertações, pautando em cada uma temas bastantes relevantes e polêmicos no que tange a expressão da linguagem poética e desconcertante.
Na primeira dissertação Nietzsche trabalhará os conceitos de “bom e mau”, nestes ele aborda alguns aspectos a respeito da história da emergência das formas da valoração, por isso seu objetivo é desestabilizar a moral, no sentido mais estrito, consiste na psicologia da Cristianismo, assim o Filósofo alemão escreve em Ecce Homo: “... A verdade da primeira dissertação é a psicologia do Cristianismo á partir do ressentimento...” [2]. Nietzsche desenvolverá sua crítica mais ferrenha, conforme seu estilo de filosofar com o “martelo”, ao Cristianismo, poís, dele é que se originam, segundo o Filósofo, toda e qualquer forma de negação a vida, pautada em duas grandes morais: a moral tipo nobre e a moral tipo escrava.
Assim Nietzsche descreve essas duas morais: Na moral tipo nobre temos a atitude de afirmação a si mesmo, o tipo mais elevado de homem, é no seio dessa moral tipo nobre que se constituirá a formação da moral de rebanho, tema pelo qual, Nietzsche desenvolverá nas demais obras. Na moral tipo escrava, o Filósofo trabalha a constituição do tipo homem do ressentimento, este ao contrário daquele, faz a negação a si mesmo, o tipo manso e medíocre e quanto mais medíocre ele for, “melhor” será para ele viver subordinado a uma moral vigente e preponderante, a moral nobre.
Na segunda dissertação, Nietzsche trabalhará os cocnceitos de “culpa” e “má consciência”. Assim descreve o Filósofo: “...Mas como veio ao mundo aquela outra ‘coisa sombria’, a consciência da culpa, a má consciência”? [3]. A relação estabelecida por Nietzsche ao tratar da ‘culpa’ que o homem assume perante a si mesmo diante da desobediência frente a Divindade, remonta a idéia de dívida, encontra sua raíz na relação contratual entre credor e devedor: “...Já revelei – na relação contratual entre credor e devedor, que é tal velha quanto a existência de pessoas jurídicas,e que por sua vez remete ás formas básicas de compra, venda, comércio, troca e tráfico...” [4].E essa relação ganhou forma e corpo quando ela foi posta no alicerce da moral cristã, ou seja, segundo Nietzsche, o homem por sua desobediência aos preceitos divinos, tem como paga, a punição e o castigo.
Por último, na terceira dissertação Nietzsche questionará a respeito do ideal ascético e qual o seu valor para o homem: “ ...O que significam ideais ascéticos? – Para os artistas nada, ou coisas demais; para os filósofos e eruditos, algo como instinto e faro para as condições propícias a uma elevada esperitualidade...” [5].
Vemos, portanto, que a descomunal obra, Genealogia da Moral, na qual Nietzsche trabalha com afinco e desdobra as origens de toda e qualquer moral, o Filósofo define nas três dissertações o tipo de niilismo e decadência que se encontram nas três figuras principais de sua obra: o ressentimento, a má consciência e o ideal ascético.
“...No dia, porém, em que com todo o coração dissermos: ‘avante! Também a nossa velha moral é coisa de comédia!’ – teremos descoberto novas intrigas e possibilidades para o drama dionisíaco do ‘Destino da Alma’; e ele saberá utilizá-las, disso podemos ter certeza, ele, o grande, velho, eterno poeta-comediógrafo da nossa existência.” [6] Friedrich Nietzsche - 1887

[1] Prólogo. G. M. I
[2] A.C. 24
[3] G.M. O4, II.
[4] G.M.O4, II.
[5] G.M. 01, III.
[6] Prólogo 07, G.M.

Um comentário:

E. S. Jesus disse...

“Necessitamos de uma crítica dos valores morais”. Então, quem fará a crítica? Cadê a crítica? Teremos que esperar muito?

O que tenho percebido, é que alguns simpatizantes do sábio filósofo Nietzsche, apenas repetem seu rico conteúdo sem ainda perceber o verdadeiro propósito de sua grandiosa obra. Já os não simpatizantes se apegaram aos aspectos negativos, como por exemplo, alguns erros de seu passado e a forma que ele morreu.

www.evidente.info