O Presente trabalho têm como objetivo apontar alguns gestos metafísicos que o filósofo francês Gilles Deleuze nos aborda a respeito do problema do simulacro, partindo essencialmente do texto Platão e o Simulacro e mostrar qual a novidade que o mesmo filósofo encontra no citado texto.
Para compreendermos sob uma óptica filosófica, Deleuze vai situar-se na esteira de Nietzsche[1] o qual refere á reversão do platonismo, para o Filósofo alemão, segundo Deleuze, esta reversão do platonismo estaria voltada à abolição do mundo das essências e do mundo das aparências e certifica também a necessidade para a real motivação de Platão quando este postula a chamada teoria das Idéias, este postulado deve ser buscado do lado de uma vontade de selecionar, de filtrar.
Um dos primeiros gestos metafísicos apontados por Deleuze no texto de Platão, poderíamos situá-lo ao projeto platônico reportando ao método da divisão, este método reúne toda a potência da dialética que não consiste numa dialética da contradição e nem da contrariedade, mas uma dialética da rivalidade ou dos pretendentes, o objetivo desta divisão aparece em profundidade, na seleção da linhagem, distinguir o puro e o impuro, o autêntico e o inautêntico. Em suma, a participação seletiva, responde ao problema do método seletivo.
Um segundo gesto metafísico que Deleuze nos aponta no texto é a determinação do motivo platônico, ou seja, a distinção da essência e aparência, o inteligível e o sensível, a Idéia e a imagem, o original e a cópia, o modelo e o simulacro. A distinção é deslocada entre duas espécies de imagens: as cópias são possuidoras em segundo lugar, pretendentes bem fundados que se garantem pela semelhança; os simulacros constituem como os falsos pretendentes, construídos a partir de uma dissimilitude que implica uma perversão, um desvio essencial, neste sentido Platão divide em dois o domínio das imagens-ídolos, sendo que de um lado, as cópias-ícones e do outro os simulacros-fantasmas, em outras palavras, podemos dizer que segundo Deleuze, trata-se de selecionar os pretendentes, distinguindo as boas e as más cópias ou antes as cópias sempre bem fundadas e os simulacros sempre submersos na dessemelhança. O platonismo postula assim todo o domínio que a filosofia reconhecerá como seu, ou seja, o domínio da representação pautado pelas cópias-ícones e definido não em uma relação extrínseca a um objeto, mas numa relação intrínseca ao modelo ou fundamento.
Um terceiro gesto metafísico que o Filósofo francês nos apresenta, dentro dessa perspectiva, está calcada sob a influência do Cristianismo, o qual não procura mais somente fundar a representação, especificá-la ou determiná-la como finita,mas torna-la infinita, ou seja, fazer valer para ela uma pretensão sobre o ilimitado, faze-la conquistar o infinitamente grande assim como o infinitamente pequeno. Em suma, a seleção dos pretendentes, a exclusão do excêntrico e do divergente, se adaptariam ás exigências especulativas do Cristianismo, em nome de uma finalidade, de um Ser superior.
Tendo estes três gestos metafísicos bastante significativos que Deleuze nos apresenta no texto, podemos postular dentro desse enfoque á novidade que o Filósofo aborda e ela repousa no que pautamos no início: a reversão do platonismo apontada por Nietzsche.
Reverter o platonismo significa dizer, fazer subir os simulacros, afirmar seus direitos entre os ícones ou as cópias, aqui o problema não concerne mais á distinção Essência-Aparência, ou Modelo-cópia, esta distinção ela vai operar-se no mundo da representação, trata-se de introduzir a subversão neste mundo “Crepúsculo dos Ídolos” [2].
Nessa perspectiva não há mais hierarquia possível, nem segundo ou terceiro, a obra não-hierarquizada é um condensado de coexistências, um simultâneo de acontecimentos, é o triunfo do falso pretendente, trata-se do falso como potência, pseudos, no sentido em que Nietzsche diz: a mais alta potência do falsos subindo á superfície, o simulacro faz cair sob a potência do falso, o modelo e a cópia. Nesse sentido a simulação designa a potência para produzir um efeito, assim compreendida, a simulação é inseparável do eterno retorno, pois, é no eterno retorno que se decidem á reversão dos ícones ou a subversão do mundo representativo.
Portanto, é preciso dar razão a Nietzsche quando trata o eterno retorno como sua própria idéia vertiginosa, que não se alimenta senão em fontes dionisíacas esotéricas, ignoradas ou recalcadas pelo platonismo.
“Tornamo-nos simulacros, perdemos a existência moral, para entrarmos na existência estética” (Deleuze)
“Como é possível na mais bela flor do jardim helênico, Platão, surgir a maior doença, a Transcendência” (Nietzsche)
[1] “A filosofia de Nietzsche é, em sua inspiração fundamental, uma tomada de posição com respeito á própria filosofia. No Crepúsculo dos Ídolos, por exemplo, ele assinala de modo lapidar, as grandes etapas da sua história – Platão, a filosofia cristã, Kant, o positivismo – define-as como o platonismo da filosofia e se insurge contra toda a orientação do pensamento filosófico desde Platão” ( Machado, 1990, p.18)
[2] Obra de Nietzsche, O filosofar a golpes de martelo.
Para compreendermos sob uma óptica filosófica, Deleuze vai situar-se na esteira de Nietzsche[1] o qual refere á reversão do platonismo, para o Filósofo alemão, segundo Deleuze, esta reversão do platonismo estaria voltada à abolição do mundo das essências e do mundo das aparências e certifica também a necessidade para a real motivação de Platão quando este postula a chamada teoria das Idéias, este postulado deve ser buscado do lado de uma vontade de selecionar, de filtrar.
Um dos primeiros gestos metafísicos apontados por Deleuze no texto de Platão, poderíamos situá-lo ao projeto platônico reportando ao método da divisão, este método reúne toda a potência da dialética que não consiste numa dialética da contradição e nem da contrariedade, mas uma dialética da rivalidade ou dos pretendentes, o objetivo desta divisão aparece em profundidade, na seleção da linhagem, distinguir o puro e o impuro, o autêntico e o inautêntico. Em suma, a participação seletiva, responde ao problema do método seletivo.
Um segundo gesto metafísico que Deleuze nos aponta no texto é a determinação do motivo platônico, ou seja, a distinção da essência e aparência, o inteligível e o sensível, a Idéia e a imagem, o original e a cópia, o modelo e o simulacro. A distinção é deslocada entre duas espécies de imagens: as cópias são possuidoras em segundo lugar, pretendentes bem fundados que se garantem pela semelhança; os simulacros constituem como os falsos pretendentes, construídos a partir de uma dissimilitude que implica uma perversão, um desvio essencial, neste sentido Platão divide em dois o domínio das imagens-ídolos, sendo que de um lado, as cópias-ícones e do outro os simulacros-fantasmas, em outras palavras, podemos dizer que segundo Deleuze, trata-se de selecionar os pretendentes, distinguindo as boas e as más cópias ou antes as cópias sempre bem fundadas e os simulacros sempre submersos na dessemelhança. O platonismo postula assim todo o domínio que a filosofia reconhecerá como seu, ou seja, o domínio da representação pautado pelas cópias-ícones e definido não em uma relação extrínseca a um objeto, mas numa relação intrínseca ao modelo ou fundamento.
Um terceiro gesto metafísico que o Filósofo francês nos apresenta, dentro dessa perspectiva, está calcada sob a influência do Cristianismo, o qual não procura mais somente fundar a representação, especificá-la ou determiná-la como finita,mas torna-la infinita, ou seja, fazer valer para ela uma pretensão sobre o ilimitado, faze-la conquistar o infinitamente grande assim como o infinitamente pequeno. Em suma, a seleção dos pretendentes, a exclusão do excêntrico e do divergente, se adaptariam ás exigências especulativas do Cristianismo, em nome de uma finalidade, de um Ser superior.
Tendo estes três gestos metafísicos bastante significativos que Deleuze nos apresenta no texto, podemos postular dentro desse enfoque á novidade que o Filósofo aborda e ela repousa no que pautamos no início: a reversão do platonismo apontada por Nietzsche.
Reverter o platonismo significa dizer, fazer subir os simulacros, afirmar seus direitos entre os ícones ou as cópias, aqui o problema não concerne mais á distinção Essência-Aparência, ou Modelo-cópia, esta distinção ela vai operar-se no mundo da representação, trata-se de introduzir a subversão neste mundo “Crepúsculo dos Ídolos” [2].
Nessa perspectiva não há mais hierarquia possível, nem segundo ou terceiro, a obra não-hierarquizada é um condensado de coexistências, um simultâneo de acontecimentos, é o triunfo do falso pretendente, trata-se do falso como potência, pseudos, no sentido em que Nietzsche diz: a mais alta potência do falsos subindo á superfície, o simulacro faz cair sob a potência do falso, o modelo e a cópia. Nesse sentido a simulação designa a potência para produzir um efeito, assim compreendida, a simulação é inseparável do eterno retorno, pois, é no eterno retorno que se decidem á reversão dos ícones ou a subversão do mundo representativo.
Portanto, é preciso dar razão a Nietzsche quando trata o eterno retorno como sua própria idéia vertiginosa, que não se alimenta senão em fontes dionisíacas esotéricas, ignoradas ou recalcadas pelo platonismo.
“Tornamo-nos simulacros, perdemos a existência moral, para entrarmos na existência estética” (Deleuze)
“Como é possível na mais bela flor do jardim helênico, Platão, surgir a maior doença, a Transcendência” (Nietzsche)
[1] “A filosofia de Nietzsche é, em sua inspiração fundamental, uma tomada de posição com respeito á própria filosofia. No Crepúsculo dos Ídolos, por exemplo, ele assinala de modo lapidar, as grandes etapas da sua história – Platão, a filosofia cristã, Kant, o positivismo – define-as como o platonismo da filosofia e se insurge contra toda a orientação do pensamento filosófico desde Platão” ( Machado, 1990, p.18)
[2] Obra de Nietzsche, O filosofar a golpes de martelo.
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